RIO — Em 2000, com o álbum “Tanto tempo”, Bebel Gilberto chamou a atenção de ouvidos do mundo inteiro para sua bossa nova eletrônica, que unia vanguarda e sofisticação. Sob a força e a elegância do disco, jazia porém, quase imperceptível, um ar lounge-chic, uma ameaça de macumba-para-turista. Agora, no DVD “In Rio” (Bebelucha), também em CD, o que era subterrâneo se mostra evidente, emoldurado pelo Rio lindamente filtrado com cores de paraíso romântico-tropical — num acerto da direção de Gringo Cardia, visual adequado à música. Bossa nova Instagram.
De 2000 para 2013, o tempo passou — e rápido demais para a bossa nova lounge da qual Bebel foi a profetisa. Sem o dado do novo (e da novidade), o que sobressai hoje é o caráter soft — soft batuque, soft groove, soft samba-reggae, soft romantismo, soft samba-rap (na participação do bom Flávio Renegado), que soam agradáveis mas não arrebatam.
Há momentos, claro, em que Bebel vai além do agradável. Seu “Samba da bênção” (sete das 16 músicas do DVD vêm de “Tanto tempo”) ainda se impõe como renovador. Os produtores Liminha e Kassin — e a banda que tem músicos como Marcos Suzano, Sacha Ambak e Jorge Continentino — exploram bem texturas e timbres, arrancando elegância real do universo cool da cantora, como em “So nice (Samba de verão)”, “Eu preciso dizer que te amo” e “Momento”. Em dueto com Chico Buarque, “Samba e amor” (em estúdio) também se destaca.
O show foi gravado no Arpoador, num palco assimétrico que permite uma interessante exploração visual e a multiplicação de cenários — mar, linha da orla, montanhas, prédios. E enfatiza a interpretação de Bebel, marcada por sublinhar versos com gestos, olhares e braços, confundindo limites entre o cool e o over. A beleza da paisagem é vista com fascínio de estrangeiro. E a presença de “Rio”, do Duran Duran, lida sem distanciamento, se encaixa perfeitamente nesse conceito. Mais: serve quase como eixo do novo CD/DVD.