RIO - Nos dias posteriores aos ataques de 11 de setembro de 2001, a histeria estava no ar, e não era muito bom circular a bordo de uma banda chamada Explosions in The Sky (“Explosões no céu”). Para piorar, o quarteto americano de rock instrumental tinha acabado de lançar seu segundo disco, “Those who tell the truth shall die, those who tell the truth shall live forever” (“Aqueles que dizem a verdade vão morrer, aqueles que dizem a verdade vão viver para sempre”), que trazia na capa o desenho de um avião entre as nuvens, iluminando um anjo. E de quebra, o encarte tinha uma frase que dizia: “This plane will crash tomorrow” (“Esse avião vai cair amanhã”).
Como resultado dessa série de infelizes coincidências, o grupo — que se apresenta no Circo Voador no próximo dia 26, em mais uma iniciativa do projeto Queremos — foi o alvo perfeito para uma série de teorias conspiratórias, que diziam que o disco tinha sido lançado um dia antes do ataque (na verdade, ele saiu uma semana antes) e que “This plane will crash tomorrow” era o nome de uma das músicas do disco (não era). Pelo sim, pelo não, a banda foi colocada numa lista negra entre as rádios universitárias, junto com outros artistas “suspeitos”. Algumas semanas depois, o baixista Michael James chegou a ser detido num aeroporto porque tinha a tal frase estampada no estojo do seu instrumento.
— A frase no estojo realmente não foi uma boa ideia, mas o resto foi o reflexo da paranoia que atingiu o país nas semanas seguintes aos ataques — lembra o baterista Chris Hrasky. — A capa, por exemplo, estava pronta há quase um ano.
Estilo montanha-russa
A fumaça passou e o Explosions in The Sky continuou no ar, planando em algum lugar distante do universo pop, com sua música emotiva de tons épicos, em estilo montanha-russa, conduzida por três guitarras distorcidas (Mark Smith, Munaf Rayani e Michael James, que às vezes assume o baixo) em torno de uma coluna mantida pela potente bateria de Hraski.
Tem sido assim desde 2000, quando saiu seu primeiro disco, “How strange, innocence”, até 2011, ano do seu trabalho mais recente, “Take care take care take care”.
— Sempre tivemos esse elemento dramático, talvez pelo contraste entre o barulho e os momentos de quase silêncio — explica Hrasky. — É um estilo diferente do pop, que oferece soluções imediatas. Gostamos de contar histórias em nossas músicas, sem pressa.
Isso, de certa forma, se reflete no título igualmente dramático, com jeito de manchete jornalística, de músicas como “First breath after coma”, “The birth and the death of the day” e “Six days at the bottom of the ocean”.
— Somos uma banda sem vocais, sem letras, então canalizamos essa criatividade reprimida para os títulos — observa, com humor, o baterista. — Na verdade, os nomes são uma forma de colocarmos um selo nelas, que ajude na interpretação do ouvinte.
Talvez por isso, pelo som grandioso e widescreen do EITS, seu trabalho tenha sido usado em tantos filmes, documentários e seriados (de “Garota da vitrine”, com Claire Danes e Steve Martin, aos televisivos “One tree hill” e “CSI”). O grupo fez também parte da trilha do documentário “Friday night lights”, de 2004, e assina a música do recente “Prince Avalanche”, com Paul Rudd e Emile Hirsch, filme que debutou no Sundance deste ano e estreia em agosto nos EUA.
— Quando fizemos “Friday night lights”, tínhamos receio de acabar com um executivo de Hollywood em nossas costas, dando palpites sobre as músicas, mas isso não aconteceu e tivemos total liberdade — lembra Hrasky. — E foi legal fazer agora a trilha de “Prince Avalanche” porque criamos um som diferente do usual, com muitos pianos e violões.
Segundo ele, os shows nessa primeira turnê pelo Brasil — o grupo também se apresenta em São Paulo, nos dias 22 e 23, com ingressos já esgotados — vão seguir essa linha cinematográfica, com suas músicas (algumas chegam a ter 13 minutos de duração) emendadas umas nas outras, como numa grande história de ruídos e microfonias.
— Tocamos uma hora e meia, sem pausas, unindo as músicas como se fossem partes de um roteiro.
Já que é assim, inevitável arriscar uma pergunta antes do “the end”: qual seria o filme perfeito para a música do Explosions in The Sky?
— Difícil dizer, mas acho que seria “Além da linha vermelha”, de Terence Malik — responde Hrasky. — É um filme que tem violência, drama, lirismo e um visual estonteante. Gosto de pensar que somos como ele.