RIO - Depois de um festival de cores, sonoridades e ritmos dançantes com o álbum “Explode” (de 2011, que teve sua capa premiada como uma das mais bonitas daquele ano pelo site especializado Art Vynil), o grupo português de rock The Gift abraçou os silêncios, as delicadas texturas sonoras de piano e guitarra, burilou canções e descobriu profundidades interpretativas em Sónia Tavares (a vocalista que, à época, estava grávida). O resultado dessa busca foi um disco radicalmente diferente, “Primavera” (2012), que chegou às lojas encartado em um livreto, com as letras das músicas e uma coleção de belas fotos em preto e branco. Depois de algumas apresentações em que viram o Gift tocar as músicas de “Explode”, chegou a vez de os cariocas conhecerem esse seu trabalho mais recente, nos shows que a banda faz neste sábado (às 21h) e no domingo (às 19h) no Oi Futuro Ipanema.
— Será um show com dois cenários, dois figurinos e duas propostas estéticas diferentes — diz John Gonçalves, tecladista e baixista do Gift, que se completa com Sónia, Nuno Gonçalves (teclados) e Miguel Ribeiro (guitarra e baixo). — O espetáculo começa com os registros mais íntimos do “Primavera”, de piano, violão e xilofone, e depois parte para os mais explosivos e festivos do nosso álbum anterior. O que não invalida que, num e noutro, insiramos números de nossos outros discos. Nossa ideia é que a passagem de uma parte do show para a outra seja bem sutil. É bom que ele aconteça, portanto, em uma sala pequena.
É a quarta vez que o The Gift vem ao país (agora, como parte da programação oficial do Ano de Portugal no Brasil). Eles debutaram nos palcos brasileiros em 2006, voltaram duas vezes em 2011 (uma delas, para o palco Sunset do Rock in Rio, ao lado dos dinamarqueses do The Asteroids Galaxy Tour, na qual chegaram a tocar “Índios”, da Legião Urbana) e uma em 2012. No dia 20 de setembro, eles voltam à cidade para o Rock in Rio, novamente no Sunset, para um show com os cariocas do AfroReggae.
— Pensamos em fazer um espetáculo único e irrepetível com eles. Vamos aproveitar a passagem pelo Rio para fazer planos — conta John, que compara as investidas da banda no Brasil àquelas que fez na Espanha. — São países que, embora perto, geográfica ou linguisticamente, ao mesmo tempo estão muito distantes de nós.
Em 2014, o The Gift completa 20 anos de fundação. O aniversário, diz o baixista, eles pretendem “festejar com toda a pompa e circunstância”. Os feitos, ao longo desse tempo, afinal, não foram poucos. Mantendo-se no mercado independente do rock português, eles expandiram seu raio de atuação da pequena cidade natal de Alcobaça para Lisboa, depois para o Porto e, enfim, para o mundo. Fizeram shows em países diversos pelo planeta (nos Estados Unidos, acompanharam os performáticos Flaming Lips em turnê, em 2003), ganharam em 2005 o prêmio de Melhor Performance no MTV Europe Awards e conquistaram, com o seu último álbum, um fã dos mais célebres: o cineasta espanhol Pedro Almodóvar.
— O “Primavera” só foi lançado digitalmente no Brasil. Mas a versão física estará à venda nos shows que faremos — promete John.