NOVA YORK — Tobey Maguire não precisou ir longe quando foi chamado por Leonardo DiCaprio para conversar sobre uma adaptação de "O grande Gatsby" dirigida por Baz Luhrmann.
"Eu morava ao lado de Leo na época, então não foi uma jornada longa", diz Maguire. "Falei, 'Sim, claro. Posso chegar aí em 30 segundos'."
"O grande Gatsby" é o primeiro grande filme em que os dois velhos amigos trabalham juntos. Tudo fica ainda mais adequado, pois eles interpretam o romântico desesperado Jay Gatsby (DiCaprio) e seu amigo solitário, o narrador Nick Carraway (Maguire) — que, assim como o ator, mora ao lado de Gatsby.
Trabalhar juntos era um desejo antigo de DiCaprio e Maguire. Numa recente entrevista no Plaza Hotel, em Nova York, os dois falaram alegremente sobre sua amizade, com vislumbres ocasionais da mesma competitividade infantil que os aproximou quando eram atores mirins buscando o mesmo papel.
"Depois de encontrar Tobey num teste, senti que queria ser amigo desse cara", relembra DiCaprio. "Lembro de estar voltando do colégio e ele estava filmando 'Hot Rod Brown Class Clown' com Whoopi Goldberg. Estávamos na escola. Pulei do meu carro praticamente no meio da cena. Falava, ''Tobey! Tobey! Tobey! Me dá o seu número.' E ele, 'Sim, mas quem é você mesmo?'"
Assim começou uma amizade de 25 anos que não foi prejudicada pelo tempo nem pela fama. Eles continuaram próximos enquanto suas carreiras cresciam desde "Criaturas 3" (estreia de DiCaprio no cinema; Maguire foi recusado) até de tornarem duas das principais estrelas de Hollywood.
Os dois tomaram caminhos diferentes. DiCaprio explodiu como ídolo adolescente em "Titanic", usando a fama para conseguir papéis ambiciosos com grandes diretores como Martin Scorsese ("O Aviador", ''Ilha do medo"), Steven Spielberg ("Prenda-me se for capaz") e Clint Eastwood ("J. Edgar"). Maguire construiu sua carreira atuando em dramas aclamados ("Tempestade de gelo", ''Garotos incríveis", ''Regras da vida") antes de entrar na franqua "Homem-Aranha".
"Nós conversamos sobre todos os projetos que fazemos", conta DiCaprio. "Conversei com Tobey sobre todas as escolhas que fiz e vice-versa. Tivemos papos intermináveis sobre alguns projetos, discutimos, e apoiamos as escolhas um do outro."
Maguire, de 37 anos, e DiCaprio, 38, são filhos de pais divorciados de famílias modestas de Los Angeles. "Nós viemos de origens similares. Tivemos um início humilde, vamos dizer assim", explica DiCaprio. "Éramos jovens entusiasmados, ambiciosos que realmente queriam colocar o pé na porta."
Eles compartilham dois créditos anteriores: o primeiro na adaptação de 1993 de Tobias Wolff, "O despertar de um homem", no qual DiCaprio derrotou Maguire na disputa pelo papel do filho adolescente do padrasto interpretado por Robert de Niro. Os dois haviam feito um acordo para quem fosse o protagonista ajudasse o outro a conseguir um papel coajuvante.
Os dois estrelaram ainda uma produção de baixo orçamento, em preto e branco, chamada "Don's Plum", em 2001. Eles descartam o filme, marcado por uma série de processos na tentativa de ser lançado no cinema. Ao longo dos anos, tentaram trabalhar juntos, mas o momento certo chegou apenas com "Gatsby".
"A questão sempre foi termos carne o suficiente para dois atores no mesmo espaço", diz DiCaprio, rindo enquanto Maguire acena com a cabeça. "Quero dizer, ele tem um grande papel, mas sobra algo bom para mim?"
Luhrmann se refere a dupla como uma "parceria verdadeira".
"De qualquer maneira eu teria considerado Tobey para o papel de Nick Carraway, pois ele trabalha especialmente bem com esse tipo de caracterização", diz Luhrmann, que dirigiu DiCaprio em "Romeu + Julieta", de 1996. "A relação entre os dois realmente ajudou. Sabíamos que se fôssemos aceitar essa missão, seria bom que os protagonistas fossem amigos."
Em "Gatsby", os dois juraram ser "brutalmente honestos um com o outro", revela DiCaprio, confiando nos anos de amizade para se tornarem "parceiros no crime". A química entre os dois fica óbvia no filme. Como Gatsby, DiCaprio incorpora tanto sua aura carismática quando o saudosismo torturante do personagem. No papel de Carraway, Maguire trabalha muito bem a prosa de F. Scott Fitzgerald.
Maguire acredita que os dois têm atitudes saudáveis em relação ao modo como a indústria cinematográfica entra em seu relacionamento — são ambiciosos e ao mesmo tempo torcem um pelo outro. Quando ele interpretou um traumatizado veterano da guerra do Afeganistão em "Entre irmãos", de 2009, DiCaprio deu uma festa para celebrar a performance do amigo — um soireé que muitos acreditam ter ajudado o ator a conseguir uma indicação ao Globo de Ouro.
Mas, na quadra de basquete, a competitividade entre os dois floresce.
"Se você for escolher o time, vai pegar Leo primeiro por causa do tipo de personagem que ele interpreta, como ele joga e por seu porte físico", sugere Maguire. "Mas no fim eu tenho números melhores."
Rindo, DiCaprio responde: "Tobey é ótimo, vocês sabem no que ele é ótimo..."
"Treinando um time?", ajuda Maguire.
"Sim", confirma DiCaprio", chamando o amigo de "estrategista". "Ele vai encontrar uma forma de vencer, vi isso acontecer em sua vida também. Vi Tobey, como Gatsby, dizer: 'Isso vai acontecer para mim'."