NOVA YORK - Ele é atraente, charmoso, culto e tem o dom de fazer as pessoas se sentirem protegidas. Mas isso tudo vem acompanhado de um defeito: o homem é um serial killer. Trata-se de Joe Carroll, vilão da série “The following”, que a Warner exibe às quintas, às 23h. Seu intérprete, o ator James Purefoy, compartilha algumas destas características com o personagem. Durante a entrevista de lançamento da série, em Nova York, sua fala calma, segura, sedutora e sem alterações lembra o tom usado por Carroll em suas conversas na prisão, seja com seus seguidores ou com o protagonista Ryan Hardy (Kevin Bacon). Ainda assim, Purefoy não tem nada de assustador.
— Tenho dois filhos e não sou um desses atores que colocam o trabalho à frente de tudo. A vida real vem antes, meus filhos vêm antes. Eles são as coisas mais importantes da minha vida e precisam que eu seja apenas o pai deles. Então, no fim do dia, me desligo completamente do personagem — diz.
Sem se levar exageradamente a sério, Purefoy defende que atuar não é uma ciência complicadíssima, “embora muitos atores tentarão convencê-los de que é”, diz. Mas apesar do discurso modesto, deixa escapar uma pontinha de vaidade ao falar sobre a virada da trama de Carroll.
— Você acha mesmo que um ator como James Purefoy assinaria um contrato para aparecer na TV apenas de macacão laranja? — desafia, meio de piada, meio a sério, revelando que o vilão não usaria um uniforme de presidiário por muito tempo. Quem perdeu a grande fuga do serial killer, aliás, pode aproveitar a maratona dos três episódios mais recentes, que a Warner programou para este domingo, às 22h.
A química entre Purefoy e Bacon é visível. O entrosamento é mais do que necessário, já que a relação complicada entre mocinho e vilão é o grande motor de “The following”. Dez anos atrás, Carroll, um professor de literatura obcecado por Edgar Allan Poe, escreveu um livro que entrou para a história como um fracasso e ainda foi preso por matar 14 estudantes. Hardy, então agente do FBI, não apenas o capturou, mas escreveu um livro sobre a história — que virou best-seller — e ainda teve um caso com Claire (Natalie Zea), mulher do serial killer. Não é de se espantar que Carroll deseje vingança:
— Eles são uma espécie de espelho um do outro. Ryan escreveu o livro, então só é famoso por causa de Joe. Mas agora, Joe precisa de Ryan para um novo livro. Um precisa do outro, e isso é o mais fundamental da série.
A palavra mais usada por Purefoy para descrever o personagem é “complexo”. Segundo ele, isso foi decisivo para que aceitasse assinar o longo contrato — de seis anos — com a série. Outras qualidades primordiais do vilão que angaria seguidores são “narcisista” e “sombrio”. Exatamente como descreve também seu outro papel famoso na TV, o Marco Antônio, de “Roma”, da HBO. Não importa, no entanto, que Carroll seja um assassino cruel. Segundo Purefoy, é possível sentir empatia por ele:
— Qualquer personagem que sofra algum distúrbio mental é trágico, e aí consigo sentir empatia. Não acredito em conceitos de bom e mau. Acredito em saúde mental, educação e criação. Claramente aconteceram coisas na vida de Joe que o transformaram na pessoa que é.
Não se sabe o quanto desse passado o público vai conhecer, mas o ator fez o dever de casa e criou uma biografia para o personagem, que é “tão longa e pesada que nem vocês têm idade para ouvi-la”, brincou o ator com os jornalistas durante a entrevista. Outra tarefa ocasional de Purefoy é dar pitacos para o criador da série, Kevin Williamson, quando o personagem — que é britânico, assim como ele — começa a ficar americanizado demais.
— Americanos gostam de encurtar as palavras e as frases, e nós gostamos de falar, usar as palavras. Somos tagarelas — explica.
* A repórter viajou a convite do Warner Channel