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'Lazzaro felice' mostra alegoria sobre a ingenuidade do campo contra a dureza urbana

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Alice Rohrwacher cursava o ginasial quando leu um pequeno artigo sobre uma fazendeira rica que se aproveitava do isolamento de sua propriedade para explorar, em regime de semi escravidão, os camponeses que trabalhavam e moravam em suas terras. O caso, registrado nos anos 1990, serve como ponto de partida para a trama de “Lazzaro felice”, terceiro longa-metragem da diretora italiana, centrado na figura de um jovem camponês de alma pura, imune à mesquinhez humana a sua volta.

NarcosMXGanhador do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes deste ano, o filme, disponível na Netflix, pode ser traduzido como uma parábola sobre o poder da bondade nos tempos atuais.

— O tempo inteiro a gente lê a respeito de pessoas que usam seus privilégios para aproveitar-se de outras. O episódio da nobre e seus meeiros, sobre o qual tomei conhecimento quando ainda era adolescente, me pareceu mais do que oportuno agora. — explicou Alice, 36 anos, em Cannes. — Mais do que nunca, parecemos confusos diante da possibilidade de vivermos juntos, em comunhão, sem a necessidade de tirar proveito do semelhante.

“Lazzaro felice” é um melodrama social incomum. A ação se passa, inicialmente, em uma fazenda numa época indeterminada e, posteriormente, move-se para os dias atuais. O personagem-título, interpretado pelo estreante Adriano Tardiolo, é inspirado em narrativas bíblicas: assim como o discípulo de Jesus, ele ressuscita dos mortos para continuar seu caminho de generosidade. O mágico e o surreal se confundem e amenizam aspectos grotescos da realidade italiana – e não somente dela.

— Acho que é o mais próximo que conseguiria fazer de um drama clássico, quebrando suas regras. Até porque o filme fala de ruptura de modelos de comportamento. É como se tivéssemos perdido a chave para decodificar o acesso à realidade, tudo é borrado – explicou a realizadora. – Corria o risco de fazer um filme politizado, daqueles bem aborrecidos, mas felizmente a figura de Lazzaro, com sua graça, pureza e inocência, aterrissou nessa história, dando uma dimensão de conto de fadas.

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Salto no tempo

O angelical Lazzaro é um dos 53 lavradores da fazenda de Alfonsina de Luna (Nicoletta Braschi), mantida a custo da ignorância e do medo de seus empregados. Incapaz de distinguir abusos de gentilezas, ele acredita nas boas intenções da aproximação de Tancredi (Luca Chicovani), o arrogante e mimado filho dos patrões. A amizade inesperada lhe é tão preciosa que, depois de um acidente fatal, Lazzaro ressurge décadas no futuro decidido a reencontrar o amigo Tancredi e sua família, agora decadente, vivendo na cidade grande.

A figura e o comportamento de Lazzaro ganham uma estranheza ainda maior em um ambiente urbano, onde as formas de exploração humana se multiplicaram e sofisticaram — algumas de maneira legal. Mesmo assim, sua crença na humanidade parece inabalada. O título do filme remete a uma expressão italiana para designar pessoas que demonstram alegria ou prazer mesmo em meio à adversidades.

— Quando vemos um mendigo catando na rua, por exemplo, costumamos dizer: “Olha, aí está um Lazzaro feliz” —conta Alice, autora de “As maravilhas” (2014), outro filme que confronta o cenário rural com o mundo urbano, vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes. — São histórias distintas. Se fosse possível traçar um paralelo entre os dois, poderia dizer que “As maravilhas” conta a história de uma família de apicultores que decidiu viver no interior e ocupar uma casa abandonada. “Lazzaro feliz” poderia sugerir, de alguma forma, as razões pelas quais aquela propriedade está vazia.

Nascida e criada no interior, Alice testemunhou as transformações sofridas no campo nas últimas décadas.

— Acho que meus filmes nascem de minhas experiências diárias. Quando abro minha janela, no interior, onde moro, vejo as consequências da migração dos campos para a cidade. Há vilarejos quase totalmente abandonados, a exceção de vilas de gente endinheirada. As terras estão envenenadas, cultivadas por multinacionais do agronegócio. O trabalho que há nelas é executado por operários e lavradores temporários. O camponês e sua cultura estão desaparecendo.


'O politicamente correto é um avanço', diz Marcius Melhem

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RIO — A cara e a cabeça do “Tá no ar: a TV na TV”, que estreia sua sexta e última temporada no dia 15 de janeiro, Marcius Melhem brinca de ser Deus, mulher, padre e tudo mais com a maior tranquilidade. Hoje, não é exagero chamá-lo de o todo-poderoso do humor da Globo, já que os novos projetos de humor da emissora passam por seu crivo. O ator e roteirista, no entanto, prefere negar o título. Na humildade, diz que assume apenas mais uma função na casa. Mas a verdade é que, antes de qualquer ideia arrancar risos dos telespectadores, ele precisa “abençoá-la’’. Confira abaixo um bate-papo sobre sua carreira e seus planos:

Por que o “Tá no ar” vai acabar”?

Porque chega uma hora que tem que acabar. O programa surgiu como uma novidade grande, depois se manteve e se mantém com frescor, acompanhando as loucuras deste país. Poderíamos fazer o “Tá no ar” por mais uns dez anos, mas somos inquietos e queremos fazer outros projetos. Se não tiramos do ar uma coisa que está resolvida, a máquina da criatividade não começa a girar.

Esse fim tem a ver com seu novo cargo na emissora?

Este momento de cuidar do humor da TV Globo, ter um olhar de curador tanto aqui quanto no Globoplay, é assumir uma responsabilidade muito grande. Mas, ao mesmo tempo, é bom ter um espaço para discutir o humor dentro da emissora. Procuro ser o mais generoso e sincero possível com os projetos que chegam. É fundamental olhar nos olhos das pessoas e conversar sobre o que você acredita, sobre o que é legal para aquele momento. Eu olho esse lugar com muita responsabilidade e com o cuidado de fazer com que ele não me tire o que eu mais gosto de fazer, que é criar.

Você falou que já está criando um novo projeto com a equipe do “Tá no ar’’ e que vai entrar mais gente ainda. Como está esse novo ciclo?

O novo projeto vai ser uma grande loucura. É a única coisa que posso dizer. Hoje, a gente tem diversas coisas sendo desenvolvidas: o “Zorra”, a próxima “Escolinha do Professor Raimundo”... Eles terão mudanças, além de mais algumas séries que vêm por aí. A segunda temporada de “Shippados”, por exemplo, (a primeira temporada tem previsão de estreia para o primeiro semestre) estará sob minha responsabilidade também.

Você se incomoda com o politicamente correto?

Eu acho que o que chamam de politicamente correto é um avanço da sociedade. Não podemos oprimir o oprimido, ajudar a perpetuar machismo, racismo, misoginia. A gente vive em um país difícil para muitos grupos, e acho que a função do humor é ajudar a melhorar a vida dessas pessoas, não piorar. Então, temos que ser vigilantes mesmo. Tem risadas que não me interessam e, por isso, eu prefiro buscar outro caminho. De alguma forma, temos que contribuir para dar visibilidade a essas causas e fazer com que pessoas que são esquecidas todo dia sejam lembradas pela gente.

Há abertura para falar sobre política de maneira clara?

Temos liberdade total, mas com responsabilidade. O debate é amplo sobre como dizer o que queremos.

As pessoas ainda falam muito da sua dupla com Leandro Hassum ?

Muito! Só não voltamos a trabalhar juntos (não nos moldes de “Os caras de pau”) porque ainda não rolou.

Como sua nova função é dividida entre TV e internet?

A gente pensa no projeto e depois vê a tela em que ele será exibido. Temos projetos para TV a cabo, Globoplay e para a própria TV.

Que avaliação você faz da sua trajetória quando se vê num cargo de chefia?

Quando procurei o Marcelo Adnet para a gente fazer o “Tá no ar”, eu tinha acabado de sair de um projeto (“Divertics”) que eu não acreditava. Começamos a garimpar a equipe e, hoje, tenho muito orgulho pelo que fizemos pelo programa. Só quero juntar gente boa e não perder a emoção de estar criando.

Marcello Dantas, o homem de mais de um milhão de milhas

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'Black Mirror': Netflix lança filme ainda esse mês, segundo site

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RIO — A Netflix deve disponibilizar o filme da celebrada série "Black Mirror" ainda neste mês, segundo publicou o "Independent". A produção que terá o nome "Bandersnatch" teve lançamento previsto para o dia 28 de dezembro (esta sexta-feira) em um tweet que foi posteriormente apagado.

De acordo com o site, o filme será interativo permitindo aos espectadores ditarem eventos durante o longa. Uma sinopse vazada diz que a trama será baseada na história de "um jovem programador que transforma um romance de fantasia em um jogo. Logo, a realidade e o mundo virtual estão misturados e começam a criar confusão".

"Bandersnatch" foi o nome usado num episódio da terceira temporada, dirigido por Dan Trachtenberg e estrelado por Wyatt Russell, para batizar um jogo de videogame. Além disso, foi um projeto de game da década de 80 que nunca saiu do papel.

Recentemente, usuários mais atentos da Netflix perceberam que ao pesquisar "Black Mirror" no campo de busca da plataforma surgia um título misterioso. Com o nome "Black Mirror: Bandersnatch", sem sinopse ou outros detalhes, a chamada aparece no site apenas com a legenda "volte" e imagens de episódios das 4 temporadas da série.

Além da descrição do enredo, o "Independent" relata que “Black Mirror: Bandersnatch” é dirigido por David Slade e estrelado por Fionn Whitehead (de “Dunkirk”). Slade já é um membro da franquia “Black Mirror”, tendo dirigido o episódio da 4ª temporada “Metalhead”.

A Netflix ainda não confirmou nenhum dos detalhes publicados pelo site, nem a duração que o filme terá. O "IndieWire" relatou que o longa teria mais de cinco horas de material. Já o "Independent" noticiou que seriam 90 minutos de duração.

Premiado livro de contos mostra jovem vida gay na Porto Alegre dos anos 2010

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Kid Bengala desmente boatos sobre sua morte no Instagram

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RIO — O ator pornô Kid Bengala usou seu perfil no Instagram, na tarde desta quarta-feira (26), para desmentir boatos de sua morte. "Olha eu aqui no meu café da manhã, dia 26 de dezembro, vivinho da Silva".

Essa não foi a primeira vez em que o ator passou por esta situação. Kid Bengala, de 64 anos, é o nome artístico de Clóvis Basílio dos Santos, nascido em Santos, no litoral paulista. Kid tornou-se figura de destaque do cinema pornográfico brasileiro, e, desde 1988, já atuou em quase 30 filmes.

Ecocídio no cartão-postal

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Sergio da Costa e Silva: 'Sou um administrador da escassez'

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RIO — Ilza Lima, de 81 anos, tem um trabalho regular. Todo mês, assim que são impressos os folhetos de programação da série Música no Museu, ela junta mais de mil deles e se põe a distribuí-los, voluntariamente, por hotéis, igrejas e clubes do Rio, a fim de atrair gente para os concertos gratuitos que acontecem em instituições culturais. O primeiro deles, quando Turibio Santos empunhou seu violão no Museu Nacional de Belas Artes, faz 21 anos hoje.

Desde então, a série teve momentos luminosos, chegando a contar com apresentações de Nelson Freire, Antonio Meneses, Arnaldo Cohen e outros astros da música clássica nacional. Nos últimos dois anos, desde que perdeu uma importante patrocinadora, a Light, a série ficou no breu. Mas, graças às paixões que inspirou nessas mais de duas décadas, conseguiu construir uma rede de apoiadores, na qual Ilza é uma engrenagem. A força motriz são os próprios músicos, flexíveis com cachês e condições de trabalho ao negociar com o diretor e fundador da série, Sergio da Costa e Silva.

— Sou um administrador da escassez. Eu me sinto como na época de estudante, com o tanque do carro sempre na reserva, mas nunca parando. Tenho um elenco de amigos na série. Não é apenas uma relação profissional. Os músicos são solidários e compreensivos nas negociações, e isso é essencial para manter a série viva — ele diz. — Em 21 anos, nunca consegui ganhar um edital. E ouço muitos “nãos” de empresários, porque não tenho como dar as contrapartidas que eles acham interessantes.

Em 21 anos, nunca consegui ganhar um edital. E ouço muitos 'nãos' de empresários, porque não tenho como dar as contrapartidas que eles acham interessantesEntre os planos para 2019, está um festival de orquestras com músicos de favelas na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, e no Jardim de Alah, no Leblon, além de concertos em homenagem aos 170 anos de morte de Chopin. Só falta... patrocínio.

Para se adaptar aos tempos de tanque vazio, ele diminuiu a quilometragem da série. Em 2018, fez 326 concertos, em vez dos mais de 500 a que estava habituado. Reduziu a equipe de produção, passou a trabalhar com mais estagiários, transformou em preto e branco os programas a cores dos concertos e reforçou a presença de jovens músicos em início de carreira, tudo a fim de reduzir custos.

— Foi um malabarismo grande. A série não tira férias, mas, em janeiro e fevereiro, haverá apenas sete concertos em cada mês. Nesse período mais tranquilo, vou atrás de patrocínios para os meses seguintes. É muito mais difícil conseguir financiamento para uma série que dura o ano todo do que para um evento de um mês só, como o Festival de Harpas — compara ele.

O Rio Harp Festival, que já teve 13 edições, surgiu como subproduto do Música no Museu. Tornou-se um evento com vida própria e atrai harpistas do mundo todo. Em 2019, acontecerá em maio e já tem atrações confirmadas, como o quinteto francês Essences Musicales. O CCBB é o principal mantenedor do evento e concentra a maioria das apresentações. Mas Sergio tem esticado o festival fora do Brasil também.

— Já foi a cidades de Portugal e Espanha. Neste ano, vai a Milão e Roma, na Itália, e a Grasse, na França. Esta última é a cidade dos perfumes, e há a possibilidade de o Museu do Perfume lançar um produto chamado “Harp”, em homenagem ao evento — diz, emendando aos risos: — Infelizmente, não ganho royalties.


A incrível jornada da pintura de Dalí que salvou a viúva de Pablo Escobar

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NOVA YORK — “A Dança” pode não ser a melhor pintura de Salvador Dalí, mas provavelmente tem a história mais interessante. A primeira versão da obra foi inicialmente exposta no Teatro Ziegfeld, em Nova York, e acabou perdida num incêndio que destruiu a casa do empresário da Broadway Billy Rose, anos depois. Dalí fez uma segunda cópia para Rose, que a vendeu. Leiloada na sequência, ela acabou na casa de Pablo Escobar, o traficante de drogas que se tornou uma das pessoas mais ricas do mundo graças a seu império de cocaína e paralisou a Colômbia com suas campanhas de terror.

NarcosMXAgora, uma visão mais completa dos acontecimentos em torno da pintura, também conhecida como "Rock 'n' Roll", foi contada em um novo livro publicado em espanhol pela esposa de Escobar, Victoria Eugenia Henao. Em "Pablo Escobar: minha vida e minha prisão", ela relembra seus sentimentos quando viu pela primeira vez o trabalho de Dalí: "Foi incrível", escreve. "Fiquei impressionado com o movimento de um casal em um deserto sem fim, sensual e onírico."

Além disso, a pintura tornou-se uma espécie de talismã para a família Escobar, depois que eles sobreviveram a um ataque a sua casa em Medellín. E mais tarde serviu como o "presente" que ela acredita ter salvado sua vida e a de seus filhos. Leia abaixo um relato dos caminhos percorridos pela tela, de acordo com o livro

Nova York, 1944

A primeira versão de “A Dança” era conhecida como “Arte do Boogie-Woogie” e fazia parte de uma série encomendada por Rose para decorar o Teatro Ziegfeld durante sua produção inaugural, um musical chamado “Seven lively arts”, em 1944.

Dalí criou, numa pequena sala no teatro, pinturas refletindo sua visão sobre música, teatro e outras artes. Depois elas foram expostas no saguão. A pintura original apresentava várias figuras distorcidas e corpulentas que pareciam mais estar lutando do que celebrando, enquanto se moviam num corredor ou túnel. Uma tuba flamejante surgia no meio deles, e figuras misteriosas vagueavam ao fundo.

Monte Kisco, Nova Iorque, 1956

O conjunto original de pinturas de Dalí foi posteriormente transferido para a mansão de Rose em Monte Kisco, um subúrbio de Nova York. Mas as obras foram destruídas por um incêndio que varreu a casa em 1956.

Quando Dalí descobriu que as pinturas haviam sido perdidas, ofereceu-se para pintá-las pelo mesmo preço da encomenda original, como sinal de gratidão a Rose, seu patrono.

Porto Lligat, Espanha, 1957

Dalí pintou a nova série na Espanha, quando morava em Porto Lligat. Ele já era um artista internacionalmente conhecido na época, famoso por sua imprevisibilidade, seu gosto pelo ultraje e a mistura surreal do brutal e do divino.

A segunda versão ficou ligeiramente diferente. Apenas duas figuras aparecem, e não há mais tuba. A configuração também muda. Os dois dançarinos aparecem contra uma paisagem estéril típica de Dalí. A série foi para o apartamento de Rose, em Manhattan.

Nova York, 1985

O homem que comprou o Dalí de Rose vendeu na sequência a obra em leilão na Sotheby's de Nova York, em 14 de maio de 1985. Henao não deixa claro em seu livro se ela foi a compradora que pagou US$ 209 mil (cerca de US$ 490 mil, com valores ajustados pela inflação) ou se adquiriu a obra mais tarde. Mas o quadro apareceu na Colômbia em 1988, parte da coleção que ela estava criando.

Em seu livro de 512 páginas, Henao sugere que a arte se tornou uma espécie de refúgio para ela, em meio a uma vida envolta em violência e medo. Ela garante desconhecer a extensão dos crimes de Escobar, mas não tenta negá-los. Numa entrevista no mês passado em uma estação de rádio colombiana, pediu desculpas pela dor que causou.

Henao reuniu obras de vários artistas, incluindo Claudio Bravo, Fernando Botero e Édgard Negret. Mas a tela de Dalí foi particularmente importante, dada a importância do artista: "Foi incrível que aos 22 anos eu pudesse ter uma obra obra de artes dessas na minha casa". Já Escobar não prestava muita atenção na coleção de arte. Ele se interessava apenas por "antiguidades e carros antigos", diz a viúva.

Medellín, Colômbia, 1988

INFOCHPDPICT000080419196O apartamento de Escobar ficava em El Poblado, um bairro de Medellín. Henao pendurou o Dalí num lugar privilegiado, a biblioteca, onde podia ser visto de vários ângulos.

O quadro estava lá em 1988, quando um carro-bomba destruiu o prédio. Escobar não estava presente, mas sua família estava e precisou fugir. Dias depois, a irmã do traficante voltou ao prédio, encontrou a pintura ilesa e a recuperou.

Henao levou “A dança” para a casa de uma irmã em outro bairro de Medellín. Mas o lugar também foi atacado, dessa vez pelo grupo terrorista Los Pepes. A casa foi incendiada em 1993, e Henao inicialmente assumiu que a pintura havia sido destruída.

Mas os incendiários levaram a pintura de Dalí, como ela descobriu após a morte de seu marido, em dezembro daquele ano. Logo depois, Henao recebeu uma mensagem de um intermediário de Carlos Castaño Gil, líder do Los Pepes junto com seu irmão Fidel. Eles estavam dispostos a devolver a pintura a Henao, agora viúva, para ajudá-la a pagar os inimigos do marido morto. Mas ela recusou a oferta, diz, lembrando um conselho de Escobar para amenizar qualquer situação potencialmente perigosa. "No dia em que eu morrer, dê a eles o que você tiver para que não matem você ou nossos filhos."

Esse foi um de seus muitos gestos para convencer os antigos inimigos do marido de que ela não representava ameaça e para compensá-los pelos custos de ter enfrentado Escobar. A iniciativa parece ter tido sucesso, pois Henao e sua família puderam deixar a Colômbia em segurança, acabando por se instalar na Argentina.

Fukushima, Japão, 2018

Em 1994, “A dança” foi colocada à venda na Christie's de Londres. O catálogo mencionava Billy Rose e outro colecionador como proprietários anteriores, mas não citava o nome de Escobar. A casa de leilões estimou o valor da obra em US$ 625.195. O quadro acabou sendo comprado por um empresário japonês, Teizo Morohashi, fundador da XEBIO Corp., uma varejista de artigos esportivos, por um valor não informado.

Um colecionador de arte particularmente fascinado por Dalí, Morohashi adquiriu cerca de 330 pinturas, esculturas, gravuras e outras obras do artista. Porteriormente, ele doou essa coleção, junto com 70 obras de outros artistas, para criar o Museu Morohashi de Arte Moderna, aberto em 1999 na região de Fukushima, a cerca de duas horas de carro da costa do Pacífico.

Hoje, o museu recebe cerca de 50 mil visitantes por ano. Dalí provavelmente ficaria feliz com outro museu homenageando seu legado. Dado o seu gosto particular pelo humor e beleza de um mundo confuso, provavelmente também teria gostado da estranha jornada de sua pintura “A dança” até chegar lá.

Velha obsessão de Gus Van Sant, 'A pé ele não vai longe' levou 20 anos para ser feito

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'Insatiable', da Netflix, é eleita pior série de 2018 pelos críticos

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RIO — Lançada em agosto deste ano, "Insatiable", da Netflix, foi eleita a pior série de 2018 pelo Metacritic, um dos agregadores de crítica mais respeitados dos Estados Unidos. O seriado obteve uma nota 25 de 100 no Metascore, sistema de avaliação do site.

Insatiable Mesmo antes de estrear na plataforma de streaming, "Insatiable" já recebia uma enxurrada de críticas nas redes sociais, com direito a petição online para que ela não fosse ao ar. Após assistirem ao trailer e se inteirarem da sinopse, internautas a acusaram de gordofobia e de promover um mensagem negativa sobre o corpo para adolescentes.

A série é protagonizada por Patty (Debby Ryan), jovem gorda que acaba emagrecendo após sofrer um acidente e ficar hospitalizada. Ao voltar para a escola no ano letivo seguinte, busca se vingar de todos os colegas que praticaram bullying com ela.

Completam o top 10 do Metacritic de piores séries do ano "The Hunt for the Trump Tapes With Tom Arnold", "Heathers", "Our Cartoon President", "Reverie", "The Cool Kids", "LA to Vegas", "The Purge", "Hard Sun" e "Here and Now".

Barão Vermelho lança sua primeira música com a nova formação na série Toca no Telhado, do GLOBO

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RIO - "Estou jogando na primeira divisão, onde eu sempre quis estar, há um ano e meio, mas sou sócio-atleta há décadas" - resume Rodrigo Suricato sobre seu tempo no Barão Vermelho.

O cantor e guitarrista, conhecido pela banda que pôs no sobrenome e por anos acompanhando outros artistas, foi convocado por Guto Goffi (bateria), Maurício Barros (teclados) e Fernando Magalhães (guitarra) para o lugar de Roberto Frejat quando este decidiu se afastar de vez da banda que ajudou a fundar há mais de três décadas. Depois de 18 meses de encontros e shows, o novo Barão Vermelho está no estúdio gravando o primeiro disco da nova fase, e “A solidão te engole vivo”, de Maurício, Guto e Fernando, foi escolhida como primeiro single e tocada em formato acústico no projeto Toca no Telhado, do GLOBO, sob um sol inclemente, antes das frentes frias natalinas.

— Pensamos em uma música com uma cara mais tradicional de Barão Vermelho, para os antigos fãs não acharem que a gente está indo por um caminho muito diferente — diz Guto, sobre a canção que tem versos cazuzianos como “Se for pra levar na cara/ Amor e porrada/ Que seja de um amigo/ Verdadeiro e antigo”. Barão Vermelho Toca no Telhado

O quarteto — que, ao vivo, tem o reforço do baixista Márcio Alencar — não teve pressa na hora de preparar o novo disco, que deve ser finalizado no primeiro semestre de 2019. Depois do “sim” de Rodrigo, ensaios, shows, regravações de antigos sucessos com a nova formação e, aí, sim, o processo de composição e a diversão no estúdio.

— Temos muito material, então vamos usar as composições dos membros da banda, sem, neste momento, encomendar letras a parceiros de fora — explica Rodrigo, que diz se sentir muito confortável na dupla que guitarras que passou a formar com Fernando. — Nunca temos que negociar nada, o som está sempre bom relevante para as músicas.

O virtuoso Fernando, com mais de 30 anos de Barão no currículo, é só elogios ao novo companheiro:

— Adoro o Suri tocando violão e guitarra e cantando.

A banda lança o single e encerra o ano com show nesta sexta-feira, às 22h, no Circo Voador.

Apesar de censura a cenas de beijo e álcool, séries turcas ganham o mundo e são usadas até na barganha política

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LONDRES — Numa noite qualquer, Nahid Akhtar, 47 anos, viu-se sentada em um sofá em Londres, gritando com a TV. Ela estava assistindo a “O último guardião”, a primeira série original da Netflix em turco, que estreou no Brasil no último dia 14 de dezembro.

A produção traz um jovem vendedor de antiguidades, Hakan Demir (Cagatay Ulusoy), que se descobre parte de uma antiga linha de super-heróis que precisa salvar Istambul do mal — e, ao mesmo tempo, encontrar o amor.

"Ai, por favor, não mate o baba dele!" gritou Akhtar, uma superfã dos dramas turcos, no momento que antecede a morte do pai de Demir. "Os dramas turcos sempre têm órfãos", diz ela. "Toda série a que assisti, o herói nunca tem os dois pais."

Na telinha, Hakan estava em lágrimas. "Essa é outra coisa de que gosto na TV turca", acrescentou Akhtar. "Eles mostram muita emoção."

Dez minutos depois, o personagem ainda continuava perturbado. "Ai, fala sério", diz Akhtar. "Controle-se!" Outra coisa de que gosto na TV turca é que eles mostram muita emoção.

"O último guardião" é a mais recente evidência de como as produções da TV turca estão se espalhando pelo mundo. Na Turquia, várias séries dramáticas disputam telespectadores todas as noites, com episódios de duas ou mais horas repletos de romance, conflitos familiares e gângsteres (os episódios de "O último guardião" são mais curtos, de 40 minutos, em média.) Algumas das produções foram associadas ao crescente nacionalismo no país; outras irritaram conservadores ao mostrarem figuras históricas bebendo e namorando.

Questões morais, mas sem cinismo

As séries são um fenômeno no Oriente Médio e na América Latina e se tornaram um símbolo tão evidente do soft power turco que têm sido usadas nas manobras das disputas políticas. No dia 1º de março, por exemplo, a emissora MBC, sediada na Arábia Saudita, tirou do ar abruptamente toda a produção turca, cancelando algumas séries no meio da temporada, aparentemente em resposta ao apoio turco ao Catar. A MBC não respondeu aos pedidos da reportagem.

Agora as séries estão se espalhando pela Europa. Neste ano, uma versão dublada de "Fatmagul", aclamado drama sobre as consequências de um estupro coletivo, atraiu quase um milhão de telespectadores por episódio na Espanha, apesar de ser transmitido pelo canal Nova, especializado em telenovelas latino-americanas. Outras séries tiveram sucesso similar em países que vão desde a Bulgária até a Suécia.

Apenas França, Alemanha, Grã-Bretanha e Estados Unidos seguem resistentes, diz Fredrik af Malmborg, diretor da distribuidora de TV Ecchorights. "A TV turca traz questões familiares e morais", explica. "É um pouco conservadora, ligeiramente antiquada, mas não é cínica."

A Netflix veicula dramas turcos desde 2016, mas a iniciativa de produzir uma série própria mostra seu crescente apelo, afirma Malmborg.

Uma segunda temporada de "O último guardião" já foi encomendada, e a Netflix atualmente trabalha em outra produção original estrelada por Beren Saat, uma das atrizes mais populares da Turquia. A Netflix disse ao "New York Times" que ninguém de "O último guardião" estaria disponível para entrevistas.

Fãs pagam multa para ver beijo em cena

Já existe uma forte comunidade de entusiastas por toda a Europa e América para a Netflix segmentar. Akhtar começou a curtir dramas turcos em janeiro de 2017 quando estava de cama. "Tive uma gripe crônica muito forte", lembra. Entediada, abriu o Netflix, que sugeriu um episódio de “Kurt Seyit ve Sura”, um romance de guerra.

"Pensei em dar uma chance, já que eram apenas 45 minutos. Fiquei absolutamente encantada", recorda.

Foram o cavalheirismo e o romance presentes — valores à moda antiga — que prenderam sua atenção, diz. Mas também os diálogos: “É muito elegante e poético. Bate na nossa alma".

Akhtar logo ficou obcecada. Chegou a pedir duas folgas do trabalho pra terminar outra série. Viajou para a Turquia várias vezes, uma delas só para tentar encontrar seu ator favorito. Ela também entrou para mais de 20 grupos no Facebook, escreveu para o diretor de uma das séries, implorando que ele fizesse com que os personagens se beijassem.

“Se os personagens se beijam, as séries podem levar multas altas”, explica Akhtar. Isso porque o Conselho Supremo de Rádio e de Televisão da Turquia pode punir os radiodifusores que mostrarem qualquer cena considerada contrária aos valores nacionais e morais da sociedade. “Os fãs juntaram dinheiro, entraram em contato com o diretor e disseram: 'Deixe-os se beijarem. Nós pagaremos a multa para você'. "

Garrafas de álcool aparecem geralmente borradas para evitar problemas com os censores, acrescentou. Assassinatos, porém, não trazem problemas.

'Adoro ver Istambul de novo'

Yasemin Y. Celikkol, que estuda dramas turcos na Universidade da Pensilvânia, nos EUA, disse que algumas séries provaram ter ressonâncias específicas em outros países. Uma série chamada "Falling leaves" foi um sucesso na Bulgária, diz ela, porque o enredo é sobre as "coisas terríveis que acontecem às famílias quando se mudam para as cidades". Como houve muita migração interna na Bulgária, as pessoas se identificaram com ela, acrescentou.

Os dramas também vêm mudando a imagem da Turquia na Rússia, diz Celikkol, o que fez com que muitos russos passassem a viajar para lá nas férias, para encontrar maridos e até procurar tratamento médico. Mas isso parece ter produzido uma reação negativa, acrescentou. Em 2016, uma empresa de televisão russa lançou uma série, “East / West”, sobre um casal russo que visitava uma clínica de fertilidade turca, mas a mulher russa acabava como a segunda e infeliz mulher do médico turco.

"Quase parecia que a série dizia às mulheres russas: 'Não vá lá, você perderá sua liberdade e não terá acesso aos seus filhos'", disse Celikkol. Uma segunda temporada de "East / West" foi transmitida neste ano.

De volta a Londres, Akhtar correu para assistir aos dois primeiros episódios de “O último guardião”, apontando todas as diferenças entre a produção da Netflix e outras séries turcas. Uma cena com uma mulher de calcinha definitivamente não apareceria na televisão turca, destaca ela. E havia mais palavrões do que o normal. O ator principal também parecia mais desleixado.

Mas ela gostou. "Vou continuar assistindo", conclui. “Algumas atuações são exageradas, quando normalmente o povo é mais sutil. Mas eu quero saber o que vai acontecer, e o melhor de tudo é que tem legendas ”.

Isso normalmente é um problema, ela diz. Akhtar fala apenas um pouco de turco e frequentemente tem que pesquisar on-line por versões legendadas pelos próprios fãs.

"Adoro ver Istambul de novo", acrescenta. “Uma parte minha quer morar lá por um ano e aprender turco. Ou simplesmente ficar sentada no meu apartamento assistindo a essas séries.”

Morre no Rio a cantora Miúcha aos 81 anos

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RIO — Morreu no fim da tarde desta quinta-feira a cantora e compositora Miúcha, aos 81 anos, em decorrência do tratamento de um câncer. Ela foi internada às pressas e teve uma parada respiratória. O velório está marcado para esta sexta, no Cemitério de São João Batista, Zona Sul do Rio.

Filha do historiador e jornalista Sérgio Buarque de Holanda e da pintora e pianista Maria Amélia Cesário Alvim, Miúcha lançou 14 álbuns ao longo de sua carreira de mais de 40 anos. Links Miúcha

Ela é mãe da também cantora Bebel Gilberto, fruto de seu casamento com o músico João Gilberto, e irmã de Chico Buarque.

Heloísa Maria Buarque de Hollanda nasceu no Rio de Janeiro em 30 de novembro de 1937, e mudou-se para São Paulo com a família quando tinha 8 anos. Comecçou a cantar ainda criança, vindo a formar um grupo com seus irmãos — Chico, inclusive. Suas primeiras noções de violão foram dadas por um amigo da família, o poeta Vinicius de Moraes. "Depois eu ensinava pro Chico o pouco de violão que tinha aprendido com Vinicius. E Chico logo começou a brincar de fazer música", contou Miúcha em entrevista ao GLOBO em 2016. TOQUINHO E MIÚCHA ● O QUE SERÁ (live)

Nos anos 1960, ela estudou História da Arte em Paris, na École du Louvre. Em Roma, foi apresentada pela cantora chilena Violeta Parra a João Gilberto, com quem viria a casar, tempos depois, em Nova York.

"Não sabia nem falar inglês, mas arrumei um emprego de datilógrafa. Eu era desenhista, tinha feito publicidade. Uma das perguntas que me fizeram na entrevista foi se eu era boa com figures (cálculos, números, em português). Eu disse 'oh, yes', pensando que era desenhar figuras (risos)", revelou Miúcha na entrevista ao GLOBO de 2016. "Casei com João em 1965. Na época viajávamos muito, nos mudamos muito. Uma vez peguei um ônibus errado, fui parar em New Jersey, gostei e voltei com uma casa alugada.

Miúcha inicou a carreira artística de fato em 1975, cantando no disco "The best of two worlds", de João Gilberto e Stan Getz. Ainda naquele ano, apresentou-se no Newport Jazz Festival, fez shows com Stan Getz e participou da faixa "Boto", do LP "Urubu", de Tom Jobim. Pela Luz dos Olhos Teus Tom Jobim, Miucha e Vinicius de Moraes

Ela seguiu a parceria com o maestro no LP "Miúcha e Antonio Carlos Jobim" (de 1977), que se destacou pelas faixas "Maninha" (composta especialmente para ela por Chico), "Pela luz dos olhos teus" e "Vai levando". Ainda em 77, entrou no show "Tom, Vinicius, Toquinho e Miúcha", que ficou quase um ano em cartaz no Canecão antes de percorrer América do Sul e Europa. O espetáculo foi gravado ao vivo e lançado em disco. No mesmo ano, Miucha participou do musical "Os Saltimbancos", adaptado para o Brasil por Chico, interpretando a Galinha, com a filha Bebel no coro infantil.

Em 1979, a cantora gravou com Tom o LP "Miúcha & Tom Jobim", que trouxe as faixas "Triste alegria", de sua autoria, "Falando de amor" (de Tom) e "Dinheiro em penca", única parceria de Tom Jobim com o poeta Cacaso. No ano seguinte, ela lançou o disco "Miúcha", com arranjos de João Donato e com a participações da filha Bebel (cantando na faixa "Joujoux et Balangandans"), e de João Gilberto (violão em "All of me" e "O que é, o que é"). História de uma gata - Miúcha, Chico Buarque e crianças.

Em 1989, a cantora voltou ao disco com "Miucha", LP no qual contou com a participação do cantor e compositor cubano Pablo Milanés e em que gravou o ainda pouco conhecido compositor Guinga. Seguiram os discos "Rosa amarela" (1999), "Vivendo Vinicius ao vivo" (1999, com Baden Powell, Carlos Lyra e Toquinho), "Miucha.compositorees" (2002), "Outros sonhos" (2007, dedicado a Tom Jobim, Chico Buarque e Vinicius de Moraes) e “Miúcha ao vivo no Paço Imperial” (2015, com show gravado 15 anos antes).

Fotografando Jards Macalé

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Toquinho, Roberto Menescal e Marcos Valle se despedem de Miúcha

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RIO — A MPB se despede nesta quinta-feira da cantora Miúcha, que morreu no Rio aos 81 anos, em decorrência de uma parada respiratória. Nas redes sociais, fãs e amigos fazem suas homenagens.

Um dos parceiros de Miúcha naqueles históricos concertos no Canecão em 1977 ao lado de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Toquinho falou ao GLOBO sobre a "grande amiga":

— Miúcha era uma pessoa muito musical, tão querida, que conhecia há mais de 50 anos. Começamos nossa carreira juntos. É uma grande perda pela sua sensibilidade, musicalidade e sua visão generosa em relação à música. Além de ser um grande ser humano. É mais uma pessoa ligada a gente que vai embora na música brasileira. Agora, daqueles shows, só restou eu. Essa sensação é muito ruim, você vai ficando muito sozinho na suas memórias, e isso é inevitável. Links Miúcha

Passando o som para o show do grupo Os Bossa Nova, que acontece nesta noite no Blue Note Rio, Roberto Menescal, Marcos Valle, João Donato e Carlos Lyra foram surpreendidos com a morte da colega.

— Miúcha começou cedo e fez muita coisa, teve uma importância muito grande na nossa música por seu estilo, por sua ligação com João (Gilberto), Vinicius, Chico (Buarque)... Depois tem a ligação dela com a Bebel também. É uma história forte na música brasileira e vai deixar uma saudade muito grande. Louvo e respeito tudo o que ela fez — disse Valle.

Durante a conversa com o GLOBO, Menescal sugeriu aos colegas que fizessem uma homenagem a Miúcha na apresentação desta noite, sugestão prontamente aceita. O quarteto vai dedicar a ela a canção "Último aviso", parceria recente entre Donato e Valle.

— Eu gravei na PolyGram, na década de 1970, o disco de Miúcha com Bebel, que tinha 7 anos na época. Recentemente, fizemos um evento em Brasília, num espaço aberto, com o público cantando junto. Não a via há uns quatro anos, a vida ficou por WhatsApp — lembrou Menescal.

O compositor lembrou ainda da paixão de Miúcha pela música:

— Miúcha era muito música. Mais do que ser cantora, ela queria estar na música. Lembro do show no Canecão com Tom, Vinicius e Toquinho. Ela não estava ali querendo dinheiro, e sim pela música, por fazer parte daquilo. Ela exalava música.

Amiga de Miúcha desde que escreveu uma biografia de Chico Buarque, nos anos 1990, a jornalista Regina Zappa lembrou outra faceta da cantora:

—Ela escrevia muito bem. Sempre falei que devia escrever suas memórias. Lembrava de detalhes incríveis da sua vida profissional, e sempre conviveu com gente muito bacana. Uma pena que não deu. Mas ela escrevia muitas cartas e elas estão por aí, com família e amigas, e vão aparecer.

Nas cartas e histórias, uma marca registrada de Miúcha: o bom humor.

— Era uma pessoa de bem com a vida. Mesmo nos piores momentos, sempre fazia graça. Nunca a vi de mau humor. Brava, sim, mas mal-humorada jamais. Bebel Gilberto

Filha única de Miúcha, a cantora Bebel Gilberto postou em sua conta no Instagram uma homenagem a mãe, com direito a um belo registro das duas juntas. "Pra sempre no meu coração. Te amo muito. Descansa, meu amor... saudades", legendou a cantora.

Bebel Gilberto é fruto do casamento de Miúcha com João Gilberto, um dos mitos da música brasileira. Nos últimos tempos, ela se dividiu entre o Rio e Nova York, onde tem um apartamento. Bebel está na cidade para passar o réveillon. Caetano Veloso

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Capital Inicial volta à garagem em disco com participações de bandas jovens

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RIO - "E chega o fim de semana e todos se agitam/ Sempre à procura de uma festa", cantava o Aborto Elétrico em "Anúncio de refrigerante". Cantor do Capital Inicial, banda formada das cinzas do Aborto, assim como a Legião Urbana, Dinho Ouro Preto fazia parte da Turma da Colina, em Brasília, nos anos 1970, retratada na canção. Décadas depois, o cantor de 54 anos mantém o espírito: curte uma galera roqueira, como a formada por bandas mais jovens do que a sua, em São Paulo: Fresno (originalmente do Rio Grande do Sul), CPM 22, Scalene (de Brasília), Far From Alaska (do Rio Grande do Norte) e outras. Foi em uma reunião na casa de Lucas Silveira, cantor e guitarrista da Fresno e produtor, que Dinho teve uma ideia para o novo disco do Capital.

- Já tínhamos as canções, mas queríamos algo que tivesse a cara da banda e ao mesmo tempo fosse instigante, olhasse para a frente - conta ele. - É para isso que serve gravar um disco, principalmente depois de 30 anos de banda, né?

Sempre amigo da garotada (ele tem várias colaborações com as bandas mais jovens, como no "Acústico" do CPM, em que gravou "Um minuto para o fim do mundo" ao lado do cantor Badaui), Dinho foi participar de uma sessão de estúdio com o Supercombo (outro grupo da nova geração, este do Espírito Santo) e encontrou a galera na casa de Lucas.

- Vi que essas bandas têm uma unidade, todos se falam, têm grupos de WhatsApp, alguns são empresariados pelo mesmo escritório; eles formam uma cena - conclui. - Diferente da minha geração, em que muitos são amigos, mas sempre teve rivalidade, também.

Na ocasião, Dinho, de papo com Lucas, disse que tinha começado a compor uma música, mas estava empacado.

- Ele me chamou para o estúdio que tem em cima da garagem, fomos lá e resolvemos a música - conta Dinho. - Aquilo acendeu a centelha do que seria o "Sonora": arranjos, sonoridade, tudo.

Dinho ficou surpreso ao entrar no estúdio de Lucas.

- Ele tem tudo, mas num esquema de guerrilha - avalia. - Eles dão um bypass nos aparelhos mais caros, microfones, mesa, pedais, com outros que dão resultados do mesmo nível, com muita garra e criatividade. Esse estado de espírito de volta quase literal à garagem foi o que pautou o disco.

O cantor e seus companheiros no Capital - os irmãos Flávio e Fê Lemos, no baixo e bateria, respectivamente; o guitarrista Yves Passarell e os músicos de apoio Fabiano Carelli, na guitarra, e Robledo Silva, nos teclados - já tinham a maior parte do repertório composto, por eles mesmos e com velhos parceiros como o letrista Alvin L, o cantor Kiko Zambianchi e o guitarrista Thiago Castanho, ex-Charlie Brown Jr.

- Fomos para o estúdio, nós seis, e gravamos as músicas - conta o cantor. - Depois, pensamos quais delas teriam a ver com as bandas amigas, e os chamamos para colaborar.

Clipe de "Velocidade", do Capital Inicial com o CPM22

Assim, "Parado no ar", que abre o disco, tem a participação do Scalene - a banda candanga contribui para um clima soturno, que ganha intensidade a caminho do refrão; a tortuosa "Universo paralelo" tem participação de Lucas Silveira; e duas das canções mais agressivas, "Velocidade" e "Invisível", contam, respectivamente, com CPM 22 e Far From Alaska, que emprestam um sabor punk à primeira e de rock básico e barulhento à segunda.

- Chamamos o Lucas para produzir o disco, acho importante ter alguém com a mão pesada, que dá sugestões, pensa no som, em vez de um produtor que simplesmente grave a banda tocando - diz Dinho. - Essas bandas são o futuro do rock, e nós não queríamos uma postura de "lá vem mais um disco". Embora hoje as vendas de discos não sejam mais tão significativas, há um outro lado: como as plataformas de streaming têm todo o seu catálogo, tudo volta a ser ouvido quando sai um disco novo.

Dinho (que faz questão de lembrar que não bebe álcool há um ano e nove meses) soa tão animado com o disco que já pensa em novas gravações.

- Velho! - gargalha ele. - O estúdio do Lucas é uma loucura, tem uns 300 pedais. Eu fotografei tudo e vou comprar igual para o meu próprio estúdio, na minha casa. Além da produção das músicas para o Capital, que não para nunca, quero regravar dois discos que fiz fora da banda, o do Vertigo (banda punk que lançou seu único CD em 1994) e o meu primeiro, "Dinho Ouro Preto" (1995), que estão fora de catálogo.

Crítica: em álbum de altos e baixos equalizados, Capital Inicial acerta quando busca o frescor

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Claudia Tavares cria 'rio voador' entre seu ateliê, em Laranjeiras, e o sertão de Pernambuco

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RIO — Entre o excesso e a escassez, Claudia Tavares criou uma rota entre Rio e Floresta, cidade com cerca de 30 mil pessoas do semiárido pernambucano. A partir da umidade que atacava as paredes de seu ateliê, em Laranjeiras, a fotógrafa começou a pensar no que fazer com a água acumulada nos aparelhos de desumidificação. Ao mesmo tempo, vinha à lembrança a falta do recurso no sertão de Pernambuco, região que ela já conhecia. Do questionamento, nasceu um projeto de utilizar a água para plantar um jardim na cidade, que, quatro anos depois, deu origem a uma tese de doutorado em Processos Artísticos Contemporâneos pelo Instituto de Artes UERJ e à exposição “Um jardim em Floresta”, em cartaz no Paço Imperial até 17 de fevereiro.

— Entre 2014 e 2016, coletei toda a água e a armazenei em garrafas, foram 160 litros em 180 recipientes. Em 2016 passei um mês em Floresta, trabalhando com as pessoas da cidade, coletando mudas e preparando a área onde seria plantado o jardim — conta Claudia. — Toda a água armazenada foi enviada do Rio por avião. Não era, claro, uma ação ecológica ou com qualquer pretensão de resolver um problema grave da região. Foi uma ação artística e política, a partir da própria impossibilidade da ideia de levar água do Rio ao sertão de Pernambuco.

uma jardim em floresta15.jpgPara viabilizar a empreitada, Claudia iniciou uma série de fotos da água armazenada, vendida para custear o projeto. Algumas das imagens integram o conjunto que está exposto no Paço, com curadoria de e Marcelo Campos, junto a obras em outros suportes, como aquarela, vídeos, instalação e objetos.

Bienal — Quando estava fazendo a pesquisa, me deparei com o fenômeno dos rios voadores, grandes massas de umidade deslocadas pelo vento da área da Floresta Amazônica para outras regiões do Brasil. De certa forma, era um pouco o que eu estava fazendo, criando um rio voador ligado entre duas cidades por uma rede de afeto. E isso também está presente nas obras — ressalta a artista.

A rede de afeto citada é parte da pesquisa desenvolvida por Claudia, de como envolver a população em um projeto artístico coletivo, ainda que muitos não compreendessem exatamente a ação:

— Em Floresta e nos arredores, as pessoas foram muito receptivas, nos recebendo, cedendo mudas ou trabalhando na preparação da terra. Muitas não entendiam a razão de trazer a água de longe e plantar um jardim, a vida numa região de seca não abre espaços para o que não é essencial. Mas todos se engajaram, ajudaram a criar um espaço de beleza onde não se esperaria que ele surgisse.

Um jardim em floresta- Claudia Tavares ( 2) - Cópia.jpgA fotógrafa recorda que o período final de sua estadia em Floresta coincidiu com uma temporada de chuvas como há muito a cidade não via. Para além dos 43 trabalhos que integram a mostra, Claudia acredita que o processo também trouxe uma reflexão importante para ela e os moradores.

— Ainda que as obras e a ação não tenham uma conotação política evidente, elas passam por várias questões, como a ecologia, a indústria da seca. Além da própria vivência junto à comunidade, da potência das relações estabelecidas a partir daqueles encontros — conclui.

SERVIÇO

“Um jardim em Floresta”

ONDE: Paço Imperial – Praça XV de Novembro, 48, Centro (2215-2093). QUANDO: Ter. a dom., das 12h às 19h. Até 17/2/19. QUANTO: Grátis. CLASSIFICAÇÃO: Livre.

Dicas da Kogut: Vem aí em 2019

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RIO — Em 2019 teremos grandes produções que prometem alegrar a vida do seriemaníaco. A seleção de hoje faz um apanhado do que virá. Se você não está em dia com alguma dessas histórias, corre que ainda dá tempo de se atualizar. Feliz ano novo, leitores. Links dicas da kogut

Sete reinos

É grande a expectativa em torno da oitava e última temporada de "Game of thrones". O desfecho da série inspirada nos livros de George R.R. Martin é mantido a sete chaves e está previsto para estrear na HBO em abril. Se ainda não viu os episódios antigos, eles são imperdíveis.

Onde: HBO

Cotação: Ótima

No divã

sessao.jpgEntre as produções brasileiras, um destaque é a volta de "Sessão de terapia". Selton Mello assumirá o papel do psicanalista e Morena Baccarin, conhecida aqui por seu trabalho em “Homeland”, viverá a supervisora dele. A série agora será uma coprodução do GNT com o Globoplay.

Onde: Globoplay e GNT

Cotação: Ótima

Na Califórnia

biglittlelies2-750x380.jpgPremiada série de 2017, "Big little lies" retornará na HBO para uma segunda temporada. Pouco se sabe até agora da história, mas Meryl Streep entrará para o elenco. Ela interpretará a mãe de Perry (Alexander Skarsgård), marido de Celeste (Nicole Kidman).

Onde: HBO

Cotação: Ótima

Monarquia

the-crown-netflix-elizabeth.jpgA terceira temporada de “The Crown” vai avançar no tempo (se passará entre os anos de 1964 e 1970) e ganhará novos atores. O papel da rainha Elizabeth II agora será da excelente Olivia Colman, conhecida por "Broadchurch". Tobias Menzies viverá o príncipe Philip e a Helena Bonham Carter caberá o papel da princesa Margaret.

Onde: Netflix

Cotação: Ótima

Antologias

Mahershala-Ali-in-True-Detective-season-3-e1539557599844.jpgLogo no começo do ano, em janeiro, teremos a volta de "True detective". Mahershala Ali (o Remy Danton de "House of Cards") será o protagonista. Nesta série de antologia, a cada temporada conhecemos uma nova história. Agora, a produção será ambientada em Ozarks e apresentará três cronologias diferentes. Na primeira leva de episódios, acompanhamos os personagens Matthew McConaughey e Woody Harrelson em uma investigação num período de 17 anos. Já na segunda temporada, os atores principais são Rachel McAdam, Colin Farrell e Vince Vaughn e a trama se passa na Califórnia.

Onde: HBO

Cotação: Ótima

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