NOVA YORK - Kara Danvers, a “Supergirl”, vai ter uma nova aliada — a primeira heroína transgênero da TV — quando a sua série retornar às telas. Na quarta temporada da produção, que estreia no Brasil em 28 de outubro, na Warner (nos EUA a reestreia foi ontem), o público vai conhecer Nia Nal, uma repórter em treinamento que trabalha ao lado da protagonista Kara, a prima de Clark Kent interpretada por Melissa Benoist.
Conforme a temporada evoluir, será revelado que Nia é a superheroína Dreamer. A personagem é vivida por Nicole Maines, uma atriz e ativista de 21 anos que também é uma mulher trans.
— É uma época fenomenal para ser um nerd LGBT. — comemora a atriz.
Maines é ela mesma uma heroína: em 2014, ela venceu uma batalha legal contra a administração escolar após ser proibida de usar o banheiro feminino do seu colégio.
Qual reação você espera diante da sua entrada em “Supergirl”?
Por enquanto só tenho recebido amor. Muitas pessoas estão felizes de ver alguém como elas na televisão. Ver a si mesmo como um super-herói é a maior validação que se pode ter. Espero que todas as pessoas, não apenas as trans, se apaixonem por Nia.
Por que você acha importante que jovens vejam uma personagem como a sua?
Esta temporada de “Supergirl” reflete muito sobre o clima em que estamos vivendo atualmente. Usa as lentes dos super-heróis para falar sobre questões reais. Os jovens precisam ver Nia porque há cada vez mais pessoas trans se assumindo. É necessário educar as pessoas sobre o assunto e explicar que é algo normal. seriesTV
Por que você acha fundamental que uma pessoa trans interprete um personagem trans?
É uma validação. Historicamente, vemos homens cis interpretando mulheres trans. Isso dá a impressão de que o mesmo acontece na vida real, de que somos homens de vestido. Quando nós temos uma mulher trans interpretando uma mulher trans, você pensa, "Ah, espera, isto que é realmente alguém trans". Isso manda uma mensagem para crianças trans de que a identidade delas é válida, que elas podem existir.
Também envia uma mensagem para pessoas cis, para pais, de que pessoas trans não são perigosas ou sexualmente anormais ou qualquer um desses mitos que foram construídos pelos meios conservadores. É apenas a identidade das pessoas. Como pessoas trans elas têm vidas completamente normais e algumas delas se tornam super-heróis. E tudo bem. Supergirl S04 trailer
Como foi a sua experiência no set?
Foi fenomenal. Foi como estar de volta à sétima série, era como ser nova na escola. Todo mundo foi amigável. Para usar um termo popular entre os jovens de hoje, todos estavam "despertos". Eles foram muito sensíveis em relação à minha identidade.
Você se sentiu confortável o suficiente para sugerir mudanças no roteiro se algo não parecia apropriado em relação a ser trans?
Com certeza. Os roteiristas falaram: "veja bem, não somos especialistas", e claro que eu também não sou. Eu só posso falar pela minha própria experiência. Mas eles foram bastante proativos em se certificar que estavam abordando a situação da melhor forma possível, e eu também. Então nos unimos para tentar dar a melhor representação possível a Nia. Isso inclui as falhas e os fortes dela.
Eu acredito que representar de forma precisa uma personagem trans não significa representá-la como perfeita — há uma pressão para fazer isso. Elas não poderiam ter defeitos porque representam a comunidade trans como um todo. Agora que nós já vimos representações mais amplas da identidade trans, acho que é mais seguro explorar as falhas dessas personagens para fazer com que elas sejam completamente humanas e tridimensionais. Nia não é perfeita. Ela tem suas próprias questões, e isso faz com que ela seja interessante e com que sejamos capazes de nos identificar com ela.
Você já experimentou a sua fantasia de heroína?
Eu já tirei as medidas e já vi alguma coisa. Não posso falar nada, mas é linda!